sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

CLUBES DE XADREZ DO SÉCULO XX1



O texto abaixo foi retirado de uma das diversas comunidades enxadrísticas do Orkut nas quais ele foi postado. O autor é Antony Bye, enxadrista do RS.
"O Clube de Xadrez ideal nos dia de hoje!

Hoje estamos presenciando as dificuldades que os clubes de xadrez tem para se manterem. Até os mais famosos e tradicionais do país estão quase fechando as portas.
Os custos são altos, o acesso é difícil ou distante, a localização não ajuda, e os recursos e a estrutura é carente ou ultrapassada. O fato é que não houve adaptação destes para os novos tempos.
Os tempos mudaram e a sociedade também, hoje os valores e as necessidades dos enxadristas são diferentes que 50 anos atrás.
Atualmente temos dezenas shoppings, milhares de lan-houses, internet, seg
urança e uma infinidade de fatores que acabam interferindo na vontade dos jogadores em irem ou não a determinado lugar.
Como teria que ser, na sua opinião e experiência, um clube de Xadrez ideal para a geração atual e a que vem vindo? (estrutura, conveniência, atrati
vidade etc..)"


O texto do colega Bye, passa a ter maior importância se visitarmos o artigo publicado pelo UOL, em seu Caderno de Esportes, de 24/12 ( Cadernos de Esportes da UOL / Folha de Sâo Paulo)

A matéria do UOL, chama atenção por transformar em pública, a situação de penúria na qual se encontra o tradicionalíssimo Clube de Xadrez São Paulo - CXSP, fato já bem conhecido da mídia enxadrística. Mas não é só isso....
A matéria também aponta enormes dificuldades nas condições vivenciadas, supostamente por todos os Clubes de Xadrez, em nossa época cibernética. O título sugere essa idéia, talvez, induzindo o leitor a concordar. Sem entrar no mérito das informações sobre a administração do referido clube, o que salta aos olhos do leitor dos 2 textos, é a dedução de que o modelo tradicional existente nos Clubes de Xadrez brasileiros, está fadado a sucumbir. E não acho que haja relação de culpa com a internet....

Apesar de existir uma enorme quantidade de "conhecedores" do jogo de xadrez, o número de jogadores dispostos a realmente praticar essa arte, é ainda irrisório. Como já se disse: "jogar xadrez é fácil; jogar bem xadrez, é difícil.." O profundo aprendizado necessário à prática competitiva do jogo, demanda horas de estudo, preparação mental e física (sim, física também), além de grande dedicação e disponibilidade de tempo. Em um país em que o Xadrez é visto como "atividade intelectual" e praticamente desprezado como esporte, a tarefa de manter e/ou ampliar os locais existentes deve passar por reformulações.

Na mídia enxadrística, são inúmeros os exemplos de entidades que conseguem manter as suas atividades, inclusive, utilizando da internet como instrumento para angariar jogadores. Alguns me vêm rapidameente à mente: CXC (Curitiba), GXBG (Borba Gato), CXG (Guaíra), CDR São José, CXP (Pirituba), SESCs e, porque não dizer, XR (Xadrez de Rua). Se a maioria dos citados nem chega aos pés da tradição e importância do CXSP, pelo menos podem oferecer algumas alternativas e/ou sugestões aos clubes mais tradicionais.

Creio que uma delas seja o "fator humano". Aqueles que militam no ambiente enxadrístico reconhecem que o perfil dos jogadores de xadrez é meio "estranho": o esporte exige concentração, introspecção, mexe demais com os egos, é extremamente competitivo (um erro pode ser fatal) e ainda carrega uma forte idéia (ilusória, mas existente) de "esporte inteligente". O ambiente do esporte xadrez, portanto, não se pode igualar a um encontro entre amigos para um futebol de final de semana. Ahhh... lógico, existem as exceções individuais que confirmam a regra geral. E também existem os jogos de futebol de final de semana entre enxadrístas, claro. Mas me refiro ao aspecto geral do ambiente... Acredito que as pessoas que desejam adentrar e/ou permancer nesse esporte, possam ter se cansado dessa condição.

Milito com os que acreditam ser possível jogar xadrez sério e competitivo e se divertir ao mesmo tempo. Acredito que quanto mais receptivo e agradável for o ambiente, mais pessoas possam frequentá-lo. Isso é óbvio demais, porém, nem sempre acontece nos ambientes existentes. Aglutinar um grupo de pessoas com um objetivo comum é bastante fácil, até.... Mas esse grupo não se mantém se não tiver satisfação e prazer em frequentar o local do encontro. Quem se dispõe a sair de casa para ir a um ambiente chato e impessoal, mesmo compactuando com a ideal principal desse encontro ?? Na melhor das hipóteses, você não retorna ao mesmo local. Procura outro...No geral, as pessoas não se falam, não são comunicativas com quem não conhecem, não têm nenhuma intenção de ser agradáveis etc,etc,etc...

Convenhamos: para quem não está inserido no Xadrez, o ambiente é muito chato. E nesse ponto, levanto a segunda questão que considero importante: o ambiente físico ou o local. Acredito que a tendência é termos locais alternativos. Vou puxar um pedacinho do texto do colega Bye para exemplificar a minha idéia: "Atualmente temos dezenas shoppings, milhares de lan-houses, internet, segurança e uma infinidade de fatores que acabam interferindo na vontade dos jogadores em irem ou não a determinado lugar." Pois bem, por que não utilizarmos esses espaços para a prática séria e regular do Xadrez ?? Não estaríamos minimizando custos, ao mesmo tempo em que ofertaríamos maiores atrativos aos que passam a frequentar o local ?? A (também tradicional) Galeria de Xadrez Borba Gato, talvez tenha sido a 1a. entidade a ser "alternativa", na Cidade de São Paulo. Alguém é capaz de dizer que não se pratica um excelente xadrez nesse Clube, ou que ele está abandonado pelos seus associados ?? Os exemplos podem ser colhidos em outras entidades. Cito o Borba Gato por conhecê-lo e por ser um Clube com bastante tempo de existência, mas creio que existam vários outros exemplos similares pelo Brasil. Indo um pouco mais além, se conseguirmos juntar um grupo receptivo com um local agradável, teremos um monte de gente ao redor da iniciativa.

E agora, a internet... Antes de ser vilã do processo de desagregação dos clubes de xadrez, acredito que ela seja complementar às atividades dessas entidades. A existência de Clubes de Xadrez Cibernéticos, não elimina a presença pessoal do jogador nos locais em que um grupo frequenta para jogar. Antes, através dos Clubes Cibernéticos, é possível convidar um enorme número de jogadores ansiosos por também participarem de eventos ao vivo. Também me parece que fica mais fácil a divulgação desses eventos, através da rede. Em que pese faltarem maiores dados estatísticos para generalizar o conceito, posso argumentar que o Xadrez de Rua não existiria com os seus mais de 20 jogadores em cada dia em que nos encontramos, sem a divulgação pela internet. A pesquisa e os estudos sobre temas enxadrísticos não seriam os mesmos, sem a realidade da internet; o intercâmbio com MFs, MIs e GMs do mundo todo, não seria o mesmo sem a internet; e assim por diante...

Pode-se dizer também, que um Clube de Xadrez ao vivo não se mantém apenas por 2 ou 3 dias de funcionamento. É verdade... Porém, isso me parece argumento de quem não consegue utilizar a ferramenta net, em favor de suas própias realidades e necessidades . Como de resto na vida, tudo é relativo, acredito que seja uma questão de aprender com os novos tempos. Se a tradição é importante por manter aquilo que é positivo em uma determinada estrutura, é negativa por tender a perpetução do lado negativo dessa mesma estrutura, dificultando as mudanças necessárias.

2 comentários:

Janderson L. Cerqueira disse...

Excelente texto !!!!!! Parabens

melo47 disse...

Agradeço em nome dos associados da Borba Gato as referências a nossa entidade. A qual, aliás, graças a um amplo movimento dos santamarenses, escapou de ser desapropriada para as obras do Metrô, que começarão em janeiro de 2009.
O seu diagnóstico de que o xadrez sobrevive nos lugares alternativos é correta. Diria que são pequenas comunidades enxadrísticas que se espalham pelo estado (como em Mogi das Cruzes, com o abnegado Claudio Tamarozi).
O modelo "elefante branco" do quase falido CXSP já não pode perdurar nos tempos de hoje. O mesmo se diga da atual estrutura de federações e confederação, burocrática e cara, que praticamente ignora esses modelos alternativos por não serem fontes de gordas receitas aos seus cofres.
Paro por aqui pois isto é assunto para "mais de metro", como diz o bom caipira.
E parabéns pelo blog, bastante diversificado e atuante.
Sergio Melo