sábado, 21 de fevereiro de 2009

O FEBEAPÁ E A FPX


"Há sujeitos tão inábeis que sua ausência preenche uma lacuna."
( Stanislaw Ponte Preta )

Durante a Ditadura Militar (1964 a 1985), houve um oficial do Exército que compareceu com a esposa em uma encenação da tragédia grega "Antígona", de Sófocles. O teatro era o TUCA (Teatro da Universidade Católica de SP), local em que espetáculos de resistência e vanguarda tinham espaço garantidos. O ano era 1966.

Como a peça tratasse de temática política intensa, por volta do 3o. Ato, o digníssimo oficial, indignou-se. Parou o espetáculo, mandou que acendessem as luzes, convocou a Polícia e deteminou a imediata prisão do autor do texto .... Foi um pouco difícil encontrar o autor da peça, já que Sófocles morreu em 406 a.C.

Essa e outras histórias de imbecilidades cometidas pela "inteligência" do Regime Militar, são contadas pelo joranlista e escritor Sergio Porto, através de seu pseudônimo mais conhecido, Stanislaw Ponte Preta, em um livro publicado na década de 60, cujo nome é sugestivo: FEBEAPÁ - Festival de Besteiras que Assolam o País.

Lembrei dessa história, ao saber do conteúdo da Ficha de Inscrição de jogadores, do 16o. Open de Xadrez de Itu, realizado no último dia 15/02. Na página da Federação Paulista de Xadrez alusiva às inscrições, encontra-se o seguinte texto:

"Declaração.
Declaro que disputo o 16.o Open de Xadrez "Cidade de Itu" por livre espontânea vontade, isentando de qualquer responsabilidade a organização, patrocinadores e demais entidades de apoio, estando ainda ciente do regulamento e das normas e regras da F.P.X."

Entendi...
Para a FPX, disputar torneios de xadrez deve ser algo perigoso ou ultrajante. Portanto, é pertinente a expressão "por livre espontânea vontade", uma vez que os jogadores de xadrez comparecem para disputar torneios sempre em razão de um sequestro, extorsão ou qualquer tipo de ameaça. Jamais "por livre espontânea vontade". . Resumindo: VAMOS PRENDER SÓFOCLES, EM 1966..... A sequência do texto é mais interessante:

".....
isentando de qualquer responsabilidade a organização, patrocinadores e demais entidades de apoio....."

Certo... A Federação Paulista de Xadrez é a organizadora de um evento para mais de 100 pessoas e não tem responsabilidade nenhuma sobre o fato. Imagino que nas legislções Civil e Penal desse país, tenha havido uma alteração nos textos referentes à responsabilidade, de modo a excluir a FPX das consequências de seus atos (ou omissões). É a tese da "excludente de imputabilidade FPX". Devo ter faltado a essa aula....
Além desse delírio de se considerar acima das leis vigentes, a expressão atesta a auto-incompetência da FPX. De fato, se não me responsabilizo é porque não me sinto em condições de realizar o evento.
Resumindo: QUEM MANDA AQUI SOU EU, MESMO SEM TER COMPETÊNCIA....

Ignorância com fantasias de autoritarismo: é o FEBEAPÁ na FPX....




2 comentários:

kabbal disse...

Seria uma bela piada se não fosse trágico

Clube de Xadrez Guaíra disse...

Seria cômico se não fosse trágico.

Mas a frase me tocou completamente!

"Há sujeitos tão inábeis que sua ausência preenche uma lacuna."
( Stanislaw Ponte Preta )

Um forte abraço e obrigado pelo comentário no post, foi a inspiração pro post atual!